quarta-feira, 28 de março de 2012

O PODER NA FÉ NA HORA DA DOR

Palestra do dia 22 de março de 2012    

 

 Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 6  O Jugo Leve.


            1 – Vinde a mim, todos os que andam em sofrimento e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (Mateus, XI: 28-30)

            2 – Todos os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perdas de seres queridos, encontram sua consolação na fé no futuro, e na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Sobre aquele que, pelo contrário, nada espera após esta vida, ou que simplesmente duvida, as aflições pesam com todo o seu peso, e nenhuma esperança vem abrandar sua amargura. Eis o que levou Jesus a dizer: “Vinde a mim, vós todos que estais fatigados, e eu vos aliviarei”.
            Jesus, entretanto, impõe uma condição para a sua assistência e para a felicidade que promete aos aflitos. Essa condição é a da própria lei que ele ensina: seu jugo é a observação dessa lei. Mas esse jugo é leve e essa lei é suave, pois que impõe como dever o amor e a caridade.

Não tenho dúvida que o que nos traz aqui nesta noite é a nossa fé. Nós fazemos a experiência da fé nas pequenas coisas, se você chegou até aqui essa noite, é porque você faz experiências miúdas de fé.

 A fé nos faz lidar com aquilo que é perigoso sem termos medo.
A experiência espírita consiste em fortalecer o homem para tudo aquilo que nos leva para a guerra.

Calce seus pés para que você tenha a possibilidade de andar em lugares pedregosos, para que os espinhos da estrada não venham estragar os seus pés.
 Tenham fé em Deus, porque se tem coisa que eu acredito nesta vida é na universalidade das dores.

A dor que dói em você está doendo em alguém muito próximo.
Os sofrimentos batem em nossa porta o tempo todo, as lutas precisam ser estabelecidas o tempo todo e não há como você ir para o combate se você estiver despreparado, nós vamos perder a guerra se a gente for sem preparo e não conseguimos sobreviver se não estivermos revestidos de fé, porque ela nos leva a enfrentar a vida.

Eu não quero ser vítima da vida, eu tenho que estar munido de todas as forças humanas e espirituais se não eu não dou conta no momento da fragilidade.

É desse fortalecimento que as palavras do evangelho nos alerta e nos aconselha para termos fé, para que no momento que a vida parecer-nos insuportável tenhamos condições de reagir.

Agora se você vai para a guerra sem estar preparado para ela, é provável que você morra nos primeiros 5 minutos de batalha e nisto está o poder de tudo que é diabólico no mundo de hoje, tudo aquilo que nos quebra como pessoas e não nos deixa atravessar .
Quantas vezes nós fracassamos diante das dificuldades da vida, diante do sofrimento, justamente porque nos faltou a fé.

E você me pergunta: Como é acreditar então? E eu lhes respondo:
Ter fé é você reunir todos os instrumentais humanos, para aquilo que é dom de Deus e a capacidade de crer nele para que podemos permanecer de pé no momento daquela dificuldade.

Vamos ser concretos, olhem para todas as batalhas da vida que você já enfrentou, quantos sofrimentos vividos nas pessoas que estão aqui, quanta dor veio visitar o nosso coração.

E eu lhe pergunto: -Você venceu ou você perdeu?
Ou eu atualizo ainda mais essa pergunta.
Você está vencendo ou você está perdendo?
É muito natural que a postura do fraco, daquele que  gosta de ser vítima, é atribuir todas as culpas ao fracasso e de não vencer a realidade exteriores.

Eu não estou vencendo porque meu marido não ajuda, eu não venço porque meu filho não faz isso, porque no meu emprego nada da certo. Não.

Eu não estou aqui para pregar para o seu marido, seu filho ou colega de trabalho. Estou aqui para pregar para você.
O destino desta palavra hoje é com o nosso coração.

Soldado que é honesto reconhece que perdeu a batalha a partir de si e não a partir dos companheiros que estão do lado.

É o passo mais seguro para qualquer mudança dentro de nós. Deus não pode trabalhar em pessoas que se recusam a assumir as responsabilidades dos próprios fracassos e dos próprios erros.

E você pode ter certeza absoluta que assim como é maravilhoso você estar diante de pessoas que reconhecem e gritam Glória a Deus diante do altar por tudo aquilo que foi de bom nesta vida.

É tão lindo e talvez ainda mais nobre aquele que consegue reconhecer EU FRACASSEI e por isso também grito Glória a Deus porque na experiência do meu fracasso eu reconheço onde é que faltou o sapato de proteção.

Para que no próximo ano nós tenhamos condições de entrar fortalecidos pela análise que fizemos desse ano que passou.

Não é vergonha nenhuma fracassar. Nós somos humanos, não é vergonha nenhuma você esbarrar na sua incapacidade, nos seus limites.

Vergonha é você fingir que não vê, vergonha é você continuar arrastando os seus dias, sem a capacidade de voltar e de fazer uma leitura da sua vida a cada instante, a cada dia, a cada oportunidade para que na releitura de tudo isto você possa ter a oportunidade de reescrever uma história diferente.

Estamos vencendo ou estamos perdendo na vida e diante dessa resposta por mais dura que seja, a maturidade nos ensina que não se trata de buscar culpados.

Se trata de buscar a postura que possa modificar então se estou perdendo ou então que possa nutrir e alimentar ainda mais se estou vencendo.

Eu confesso pra vocês que eu como voluntária de uma casa espírita, na minha experiência de conhecer os bastidores da humanidade, eu fico assustada com a falta de coragem que prevalece dentro do coração humano hoje, eu fico assustada.

A palavra profética é uma palavra amorosa, ela é dura, mas palavras amorosas geralmente não são palavras de bajulação.
Eu nunca vi um ser humano ficar bom de verdade se ele é bajulado dês do início da sua vida.

Palavras de bajulação não modificam ninguém, palavras de bajulação corre o risco de nos anestesiar a ponto de não sermos capazes para os nossos próprios defeitos.

O que é muito bajulado, no momento que ele cai, ele não se levanta mais, porque ele está acostumado a ser o bom, ele está acostumado a ser vangloriado.

Por isso a palavra profética não é uma palavra de bajulação, ela é uma palavra que fere e ai você entra na dimensão mais bonita do amor.

E agora você se pergunta: O  que eu faço? Como é que eu reajo diante de uma vida que não deu certo? Como é que eu dou testemunho da minha fé no momento do meu sofrimento?
Qual é o fruto que eu produzo no memento em que a vida não é do jeito que eu gostaria que fosse.

Não se entregue ao pessimismo, porque você é capaz de transformar a tragédia em beleza.

Beleza não elimina tragédia, mas a torna suportável. São os que sofrem que produzem a beleza para parar de sofrer.

Esses são os artistas Bethowen que apesar de ter sido completamente surdo, no fim da vida tenha produzido uma obra com tanta alegria.
Van Gog,  Cecília Meirelles,  a tantos homens que precisaram no momento em que o grão de areia invadiu a sua casa, para suportar as arestas do intruso, começou a cantar uma música embora triste, mas bonita.

Quando no momento em que a dor e a dificuldade veio bater a porta, nós ainda entramos de um jeito nobre, diferente.

A nós, não interessa uma religião que venha nos entorpecer a alma e nos fazer esquecer as dificuldades da vida e nos projetar numa esperança futura de céu.

O espiritismo começa na roxa, o espiritismo começa no calvário, é dor, Deus entra no mundo pela força da dor, Deus se despede do mundo pela força da dor e se nós temos a honra de dizer que o nosso Deus é rei, nunca te esqueças que teu rei é coroado de espinhos.

Religião, se não é pra nos ensinar a atravessar as tragédias da vida, ela não serve pra nada, ela nos coloca numa projeção futura de um futuro que não chega e não acontece.

Corta-se o dedo e sinta que a carne vai cicatrizando aos poucos, é aos poucos, Deus não fere a ordem humana, se cortou e doeu, terá que passar pelo processo da cicatrização, é humano.

Por que você acha que Jesus era tão fascinante? Por que você acha que as multidões corriam atrás de Jesus e queriam ficar perto dele e queriam ouvi-lo.

Porque que Jesus era um especialista em revestir a tragédia em beleza, ele não permitia que o pessimismo tomasse conta.

Fé é uma espécie de intuição, é como eu ter que dar explicações de por que eu amo você. Tem pergunta mais idiota do que você perguntar pro outro você me ama? E o outro responde: Eu amo e ai o idiota movido por uma idiotice ainda maior pergunta: Por que? E o outro responde, não sei, porque se eu soubesse talvez não amaria.

A gente ama sem saber porque amamos.
Acreditar é a mesma coisa, que pergunta idiota essa por que você acredita em Deus?
 A gente não sabe dizer por que acredita, o que se sabe é que no momento mais frágil em que a areia entra na nossa  casa, nós precisamos de luta, eu creio mas não sei por que creio, alguma coisa dentro de mim joga pra fora de dentro de mim mesmo, e eu não aceito o pessimismo dos idiotas que estão de plantão.

Eu creio por que no momento da dor, Deus me segura, Deus me segura a partir do momento que eu amo, a partir do momento que eu perdôo, não queira me pedir as razões da minha fé por que eu não sei dar.

O que eu sei é que eu creio e isso resolve o conflito.
Eu vejo aqui sentados assistindo a palestra o José Carlos que é o nosso presidente, a Rose voluntária da casa e o João que o nosso doutrinador da doutrina espírita, e eu me pergunto: O que faz um pai e uma mãe que perderam os seus filhos dizer Glória a Deus e ir em busca da fé?
Essas três pessoas que eu admiro tanto, poderiam estar em casa revoltadas com o mundo, trancadas num quarto escuro, amarguradas com a vida e esquecidas de Deus. Pelo fato de  perderam os seus filhos.

Mas mesmo assim, elas deram a volta por cima, preferiram vir pra cá fazer um trabalho voluntário, alimentar a fé das pessoas e dizer Glória a Deus.
Você consegue aceitar isso, perder um filho e glorificar a Deus?

 Pelos motivos humanos não tem como aceitar isso e é bem provável que a gente vai ser pessimista na explicação de tudo isso.
É  uma dor que nós precisamos tirar os sapatos dos pés, e acreditar mais do que a força humana nos permite,por que eu acredito que esse solo é santo.

Tira as sandálias dos teus pés. Se você souber tudo que passa nos corações que estão do seu lado, se você pudesse ouvir um pouquinho dessas pessoas que estão sentadas ao seu lado e que você nem ao menos conhece o nome, o que eles teriam a lhe dizer.

Você vai descobrir a dor que visitou a casa deles, o sofrimento que invadiu os nossos colegas José Carlos, Rose e João e isso os fez fortalecer-se mais, estão aqui todas as terças nas aulinhas da doutrina espírita e todas as quintas nos trabalhos da casa, mesmo com a dor da perda de seus  filhos, mas eles estão aqui, pregando a palavra de Deus, ouvindo a sua dor e tentando fazê-lo mais feliz. Glória a Deus damos ao Senhor por ter o privilégio de tê-los como colegas e aprender com eles a virar o jogo da vida e vencer a dor.

 Porque o Zé Carlos, a Rose e o João e tantos outros que perderam seus filhos ou que perderam qualquer outra pessoa amada, estão sempre aqui renovando a sua fé, porque estas pessoas querem ser como uma Ostra, que mesmo no momento do canto triste ela está pronta para produzir uma pérola.
Estas mãe, estes pais que perderam os seus filhos, mesmo na dor, estão produzindo pérolas.Isso é muito lindo, que exemplo eles nos dão e exemplo é para ser seguido.

Olha para tudo que você enfrenta hoje, nesta lógica, revista-se da coraça da justiça, da verdade, revista-se dos poderes do céu, revista-se dos poderes de Deus, revista-se dos poderes do bom senso, da prisão aprimorada e entre neste  ano de 2012 assim, permitindo que Deus faça pérolas em você, na sua luta, na sua dificuldade.Não fique em casa chorando, vá a luta, faça um trabalho voluntário, olhe por uma criança que passa fome. Lembre-se, você pode ser uma pérola.

É dia de celebrar a vitória.
O poeta Manuel Bandeira escreveu um poema fascinante em que ele diz:
Vou-me embora pra Pasárgada, você já ouviu isso?

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Onde é a Pasárgada que o poeta tanto fala?

Olhem nos mapas, descubram onde é a cidade que Manuel Bandeira deseja chegar tanto.
 Descubra qual é a fuga que o poeta está querendo e você só vai entender os motivos do poema e conhecer o contexto histórico que o poeta enfrentava no momento que escreveu.
 Tuberculoso, numa época em que os tuberculosos ficavam isolados e morriam de turberculose.
Era a doença dos poetas. Parsárgada era um lugar imaginário, o lugar da fuga.
Mas nós não precisamos da Parságada, porque nós não vamos embora pra lugar nenhum, vamos enfrentar o que hoje está diante de nós e precisa ser vivido e experimentado, o Cristo nos motiva a enfrentar.
Engraçado, os pessimistas, os que legitimam os poderes diabólicos do mundo, eles olham pra nós no momento do sofrimento e falam assim:
Sofre não, vamos tomar uma cervejinha, fumar um cigarrinho ou até mesmo uma maconha pra esquecer. Quantas vezes você escutou isso?
A Parságada pra algum lugar imaginário.
Você tem que pensar assim: Não é a vida que vai me levar não, sou eu que vou levar a vida, porque sou eu que administro tudo isso.
Não é possível ser feliz nos dias de hoje sendo pessimista, ou você toma a administração da sua vida nas mãos e começa a olhar para tudo aquilo que está acontecendo e reage de maneira madura diante tudo isso.
Ou daqui a pouco você se transforma num verme, vegetativo, pessimista, incapaz de fazer qualquer coisa pra transformar a sua vida.
As pessoas que verdadeiramente transformam o mundo e fazem verdadeiramente diferença na sociedade, são aquelas que produzem as pérolas no momento da dor e da dificuldade.
A começar pelos poetas, a começar pelos artistas, a arte só terá o seu valor no momento em que o autor conseguiu traduzir os sentimentos do mundo e fez deles uma vitrine que nós queremos nos aproximar.
É uma vitrine que nós queremos ver de perto. É triste mas é belo, porque ali houve uma experiência de superação.
Aproxima, tira o sapato e fala: Esse território é santo, este poema é santo, esta música é santa,está palestra é santa, porque ela é uma tradução de que é possível mudar o jogo da vida pra melhor.
O que está faltando pra nós minha gente, é a gente recordar do que nós somos capazes, nós estamos muito esquecidos , nós estamos esquecidos do poder de Deus em nós.
Temos que ser Homens e mulheres que estão verdadeiramente comprometidos com o sagrado.
 O espiritismo é uma filosofia de vida que lhes coloca verdadeiramente no bom senso de luta, de acolhimento da graça, os espíritas de forma alguma aceitam a palavra EU NÃO DOU CONTA.
Nós não temos o direito de dizer que a gente não da conta, se a gente não tiver tentado e ido até o fim de nossos limites. Se muitas pessoas tivessem tido a oportunidade de conhecer a doutrina espírita, talvez quantas vidas poderiam ter tomado outros rumos e fariam do caminho de sua dor um atalho para encontrar os caminhos das pérolas.
Chega de justificar as nossas incompetências, de colocar a culpa no pobre do Capeta e dizer que o mal foi mais forte que você.
Eu nunca vi um litro de uísque correndo atrás de ninguém, eu nunca vi um maço de cigarro bater na porta de alguém e dizer por favor me fume.
Somos nós que saímos do nosso lugar desprotegidos e não nos unimos de força e saímos por ai atrás do que nos faz mal e ai o pessimismo toma conta de nós, a fraqueza toma conta de nós e nós vamos perdendo as forças e nos esquecendo quem somos.
Nós temos que estar aqui hoje na Rosa dos Ventos com esta consciência, eu quero me recordar quem eu sou e sei que Deus me fez um vencedor.
Não permita que o sofrimento te abata, não permita que o sofrimento te destrua, redescobre a fé em Deus, redescobre a fé no teu salvador, grita a sua vitória, isso é o espiritismo minha gente, é ajudar  você a fazer a sua reforma íntima.
Você é capaz de mudar o jogo, você é capaz de curar as cicatrizes, busque a fé, busque a felicidade, apesar da dor, seja uma pérola linda e valiosa que mesmo que a sua música seja triste, mas você tem a capacidade de acrescentar algo de bom para a sua vida. A Fé move montanhas, está escrito isso nas escrituras sagradas e saiba que por mais pesada que seja a sua montanha ou a sua cruz, se você acreditar no sagrado, você será um vencedor.


Jaqueline Finkler Brandão (palestrante)

sábado, 10 de março de 2012

A VISÃO ESPÍRITA DA CREMAÇÃO

Tema da palestra do dia 9 de março de 2012

Maria Aparecida Romano

O espírito desencarnado sofre quando seu corpo é queimado? Quais são os motivos que estão levando um número cada vez maior de pessoas a optar pela cremação? O que o Espiritismo aconselha?

Quando se estuda o comportamento da Humanidade ao longo dos milênios, observa-se a nítida preocupação do homem com seu futuro após a morte. Um indivíduo é declarado oficialmente morto no momento que cessam suas funções vitais. Como cada grupo recebe a herança social e religiosa das tradições cultivadas pelas gerações anteriores, cabe aos membros do grupo que o indivíduo pertence cumprir os ritos tradicionais até a instalação definitiva do corpo em sua morada.

INUMAÇÃO E CREMAÇÃO
A Inumação é o ritual mais praticado. Consiste no sepultamento do cadáver em campas, geralmente no cemitério da comunidade. Cremação, ato de queimar o cadáver reduzindo-o à cinzas colocadas em urnas e em seguidas sepultadas ou esparzidas em local previamente determinada. Embora conhecida e praticada desde a mais remota antiguidade pelos povos primitivos da Terra não é muito utilizada.
O fogo passou a ser utilizado pelo homem na Idade da Pedra Lascada e, pela sua pureza e atividade, era considerado pelos Antigos como o mais nobre dos elementos, aquele que mais se aproximava da Divindade. Com a eclosão da religiosidade, o ser humano foi descobrindo que havia algo entre o Céu e a Terra e o fogo passou a ser utilizado em rituais religiosos.
Predominava a crença que ao queimar o cadáver, com ele seriam queimados todos os seus defeitos e ao mesmo tempo a alma se libertaria definitivamente do corpo, chegando ao céu purificada e não retornaria à Terra em forma de "aparições" assustando os vivos.
A cremação teve como base a força purificadora do fogo. Nos últimos tempos, em todo o continente europeu tem sido encontradas vasilhas do Período Neolítico (Idade da Pedra Polida) cheias de cinzas do indivíduos. Esses indícios revelam que a cremação já era praticada nos primórdios da Civilização Terrena.
Com o decorrer dos séculos a cremação foi se tornando prática consagrada no oriente (Índia, Japão, etc), regiões da Grécia e Antiga Rosa onde viviam civilizações adiantadas que utilizavam o processo graças ao "status". Entre os povos ibéricos tornou-se um rito generalizado, precedido de músicas, bailes e até banquetes. Com estas cerimônias esperava-se obter atitudes benévolas dos deuses, visando conduzir as almas ao Reino dos Mortos e lá chegando seria recebida e cuidada com carinho.

A INFLUÊNCIA DO CRISTIANISMO
A evolução natural da Humanidade e o ciclo iniciado com Jesus há 2000 anos modelando uma nova mentalidade, influenciavam sensivelmente nos costumes culturais e religiosos dos povos. Com a expansão do cristianismo, na tentativa de se solidificar a fé, foram se estabelecendo dogmas, entre eles, o da Ressurreição. Jesus, como descendente de uma das doze tribos de Judá, foi sepultado conforme as tradições da Lei Mosaica. A Igreja proclamou como Dogma de fé que o Messias ressuscitou de corpo e alma.
Com exceção dos países orientais onde a prática é normal, o rito da cremação ficou esquecido até o ano de 1876, quando em Washington, nos Estados Unidos, na tentativa de revificar o processo, foi estabelecido o primeiro forno crematório dos dias atuais, provocando polêmicas e controvérsias, sobretudo da Igreja que se posicionou contra a destruição voluntária do cadáver.
Só a partir de 1963, mediante a propagação do processo em diversos países do planeta, o Vaticano através do Papa Paulo VI apresentou uma abertura, mas não se posicionando claramente quando se expressou que não proibia a cremação, mas recomendava aos cristãos o piedoso e tradicional costume do sepultamento. A Igreja teve suas razões para defender a Inumação. Aprovar plenamente a cremação seria negar o dogma por ela estabelecido.
Nessa seqüência histórica observa-se que na cultura religiosa de todos os povos sempre pairou uma nebulosa noção de espiritualidade e nela a preocupação do homem com seu destino após a morte. Até que nos meados do século XIX, o francês Allan Kardec, codificador da doutrina espírita, lançou uma nova luz nos horizontes mentais do homem quando entreviu um mundo de inteligências incorpóreas.
Os espíritos são os seres inteligentes da Criação que habitam esse mundo. Simples e ignorantes no seu ponto de partida, caminham para o progresso indefinido reencarnando sucessivamente. Na encarnação, a ligação entre o perispírito e o corpo é feita através de um cordão fluídico. Sendo a existência terrena uma fase temporária, após o cumprimento da missão moral, com a morte do corpo físico o espírito retorna ao seu lado de origem conservando a individualidade.

O DESLIGAMENTO NÃO É SÚBITO
Os laços que unem o espírito ao corpo se desfazem lentamente. De uma forma geral todos sentem essa transição que se converte num período de perturbações variando de acordo com o estágio evolutivo de cada um. Para alguns se apresenta como um bálsamo de libertação, enquanto que para outros são momentos de terríveis convulsões. O desligamento só ocorre quando o laço fluídico se rompe definitivamente.
Diante da Nova Revelação apresentada pela doutrina dos espíritos e levando-se em consideração a perturbação que envolve o período de transição, questionou-se: cremando o corpo como fica a situação do espírito? Consultado, o mundo espiritual assim se expressou: "É um processo legítimo. Como espírito e corpo físico estiveram ligados muito tempo, permanecem elos de sensibilidade que precisam ser respeitados". Essas palavras revelam que embora o corpo morto não transmita nenhuma sensação física ao espírito, porém, a impressão do acontecido é percebida por este, havendo possibilidades de surgir traumas psíquicos. Recomenda-se aos adeptos da doutrina espírita que desejam optar pelo processo crematório prolongar a operação por um prazo de 72 horas após o desenlace.
Embora a Inumação continue sendo o processo mais utilizado, a milenar cremação, por muito tempo esquecida, voltou a ser praticada nos tempos modernos. Este procedimento vem se difundindo amplamente até em função da falta de espaço nas grandes cidades. Com o crescimento da população as áreas que outrora seriam destinadas a cemitérios tornaram escassas.
CREMAÇÃO: UMA QUESTÃO DE ECONOMIA
Adeptos de todas as seitas estão optando pela operação crematória. Seus partidários fundam-se em diversas considerações. Para alguns está ligada a fatores sanitários, sendo que alguns cemitérios podem estar causando sérios danos ao meio ambiente e à qualidade de vida da população, enquanto que para muitos usuários do crematório o processo diminui os encargos básicos econômicos, entre eles, a manutenção da tumba.
Atualmente, o Brasil conta com quatro áreas crematórias e está em fase de expansão. A área da Vila Alpina, na cidade de São Paulo, foi fundada em 1974. É a primeira área crematória do país e conta com quatro fornos importados da Inglaterra. Pertence à Prefeitura Municipal e leva o nome do seu idealizador, dr. Jayme Augusto Lopes. As outras três áreas são particulares e estão localizadas na cidade de Santos, no Estado do Rio de Janeiro e no Estado do Rio Grande do Sul.
Segundo a Lei, a cremação só será efetuada após o decurso de 24 horas, contadas a partir do falecimento e, desde que sejam atendidas as exigências prescritas. A prova relativa à manifestação do falecido em ser cremado deve estar consistente de Declaração de documento público ou particular.
As cinzas resultantes da cremação do corpo serão recolhidas em urna individual e a família dará o destino que o falecido determinou. Muitos países já contam com Jardins Memoriais e edifícios chamados "Columbários", com gavetas para serem depositadas as urnas com as cinzas dos falecidos podendo ser visitadas por parentes.
Kardec, o codificador disse: "O homem não tem medo da morte mas da transição".
À medida que houver amadurecimento e compreensão para a extensão da vida, o ser humano saberá valorizar cada momento da vida terrena e devotará ao corpo o devido valor que ele merece. Através do corpo, o espírito se ilumina. Resgata-se o passado, vive-se o presente e prepara-se o futuro. No desencarne é restituída a liberdade relativa ao espírito enquanto o corpo permanece na Terra com outros bens materiais.
O espírito preexiste e sobrevive ao corpo. Tanto inumação como cremação são formas de acomodar o cadáver. Expressam o livre arbítrio de cada um. Os dois processos destroem o corpo. Para se optar pela cremação é necessário haver um certo desapego aos laços materiais e mesmo com a inumação, caso o espírito não estiver devidamente preparado, poderá sofrer os horrores da decomposição. Quanto mais o espírito estiver preparado moralmente, menos dolorosa será a separação.

Maria Alice Guiimarães

RESIGNAÇÃO ESPÍRITA



Uma das acusações que se fazem ao Espiritismo é a de levar o homem ao conformismo. “Os espíritas se conformam com tudo, -escrevem-nos- e dessa maneira acabarão impedindo o progresso, criando entre nós um clima de marasmo, favorável às tiranias políticas do Oriente. A ideia da reencarnação é o caldo de cultura do despotismo, pois as massas crentes se entregam a qualquer jugo.

Muitos confundem a resignação espírita com o conformismo religioso. Mas, contraditoriamente, acusam o Espiritismo e não acusam as religiões. Por outro lado, tiram conclusões teóricas de fatos que podem ser observados na prática. A ideia da reencarnação não é nova, não nasceu com o Espiritismo, e não precisamos teorizar a respeito, pois temos toda a história da humanidade ante os olhos, para nos mostrar praticamente os seus efeitos.

Vamos, entretanto, por ordem. E tratemos, primeiro, da resignação e do conformismo. A resignação espírita decorre, não de uma sujeição místico-religiosa a forças incontroláveis, mas de uma compreensão do problema da vida. Quando o espírita se resigna, não está se submetendo pelo medo, mas apenas aceitando uma realidade à qual terá de sujeitar, exatamente para superá-la, para vencê-la. Não é, pois, o conformismo que se manifesta nessa resignação, mas a inteligente compreensão de que a vida é um processo em desenvolvimento, dentro do qual o homem tem de se equilibrar.

Acaso não é assim que fazemos todos, espíritas e não-espiritas, em nossa vida diária? O leitor inconformado não é também obrigado, diariamente, a aceitar uma porção de coisas a que gostaria de furtar-se? Mas a diferença entre resignação ou aceitação, de um lado, e conformismo, de outro, é que a primeira atitude é ativa e consciente, enquanto a segunda é passiva e inconsciente. O Espiritismo nos ensina a aceitar a realidade para vencê-la.

“Se a doença o acossa, -dizem- o espírita entende que está sendo vítima do fatalismo cármico, do destino irrevogável. Se a morte o rouba um ente querido, ele acha que não deve chorar, mas agradecer a Deus. Se o patrão o pune, ele se submete; se o amigo o trai, ele perdoa; se o inimigo lhe bate na face esquerda, ele lhe oferece a direita. O Espiritismo é a doutrina da despersonalização humana.”

Mas acontece que essa despersonalização não é ensinada pelo Espiritismo, e sim pelo Cristianismo. Quando o Espiritismo ensina a conformação diante da doença e da morte, o perdão das ofensas e das traições, nada mais está fazendo do que repetir as lições evangélicas. Ora, como o leitor acusa o Espiritismo em nome do Cristianismo, é evidente que está em contradição. Além disso, convém esclarecer que não se trata de despersonalização, mas de sublimação da personalidade. O que o Cristianismo e o Espiritismo querem é que o homem egoísta, brutal, carnal, agressivo, animalesco, seja substituído pelo homem espiritual. A “personalidade” animal deve dar lugar à verdadeira personalidade humana.

Quando ao caso das doenças, seria oportuno lembrar ao leitor as curas espíritas. Não chega isso para mostrar que não há fatalismo cármico? O que há é a compreensão de que a doença tem o seu papel na vida humana. Mas cabe ao homem, nesse terreno, como em todos os demais, lutar para vencê-la. O Espiritismo, longe de ser uma doutrina conformista, é uma doutrina de luta. O espírita luta incessantemente, dia e noite, para superar o mundo e superar-se a si mesmo. Conhecendo, porém, o processo da vida e as suas exigências, não se atira cegamente à luta, mas procurando realiza-la com inteligência num constante equilíbrio entre as suas forças e o poder dos obstáculos.


Escrito por José Herculano Pires no livro “O homem novo”