terça-feira, 11 de outubro de 2011

Palestra SOFRIMENTO - 06/10/2011

Jesus saiu, então, e foi, como de costume, para o monte das Oliveiras.
E os discípulos seguiram também com Ele.
Quando chegou ao local, disse-lhes: "Orai para que não entreis em tentação".
Depois afastou-Se bruscamente deles
até à distância de um tiro de pedra, aproximadamente,
e, posto de joelhos, começou a orar dizendo:
"Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice,
não se faça, contudo, a minha vontade mas a tua".
Então vindo do Céu, apareceu-Lhe um anjo que O confortava.
Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente
e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra.
Depois de ter orado, levantou-Se e foi ter com os discípulos
encontrando-os a dormir devido à tristeza. Disse-lhes:
"Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação". 


Hoje nós temos uma missão de voltarmos os olhos sobre um acontecimento humano que todos os dias a gente esbarra de alguma forma. 

Causa de muitos dizeres, de muitos pensamentos, causa de muita reflexão. O sofrimento figura na vida humana como uma das realidades mais recorrentes. O sofrimento sempre foi um tema, uma realidade que nos fez pensar, que fez a filosofia andar, que o fez o espiritismo caminhar, porque ele é humano, nós o experimentamos o tempo todo. 

E hoje eu quis começar essa NOITE, trazendo justamente o sofrimento de Jesus. Aquele momento que antecede o calvário, aquele momento de angústia suprema, em que ele nos revela que a DOR, ela é comum em todos os lugares, que mesmo ELE sendo filho de Deus, ele não está imune. 

Também para nos identificar, para nos ensinar, que a cruz não é uma representação, a cruz é uma realidade, a cruz não é um teatro. O monte das agonias não é uma representação, Jesus não está representando absolutamente nada, ele está vivendo na carne, as conseqüências de uma realidade humana, de uma escolha. 

Ele está diante da dura realidade de ter que assumir agora a conseqüência do seu jeito de viver, vai morrer e ele está com medo. Isso me faz lembrar uma frase que não lembro o autor, que dizia assim: Até mesmo o soldado, por mais corajosos, tem direito de chorar e dizer que está com medo. 

E que no momento que nós dizemos que estamos com medo, no momento que assumimos que precisamos chorar porque o peso da vida está grande de mais sobre nós, nós nos tornamos humanos diferenciados, porque somos reais. 

É tão bonito você encontrar uma pessoa na sua realidade mesmo que ela seja crua, mesmo que ela seja triste, é tão bonito você encontrar uma pessoa com a capacidade de viver a vida que é dela, de não inventar nada, eu estou aqui, mas o sofrimento está em mim . 

Você encontrar uma pessoa que está vivendo a totalidade, ela não está absorvendo apenas uma parte da vida, ela está sendo concreta, ela está sendo real, ela não está maquiando absolutamente nada. Mesmo porque a gente não encontrou ainda maquiagem que possa cobrir a nossa dor. 

As indústrias de cosméticos, ainda não inventaram maquiagem que escondam a dor. Pode esconder olheiras, pode esconder um olho fundo, falta de dormir, mas não há nem uma maquiagem que possa esconder a tristeza. 

Não há nada que você possa passar sobre o seu rosto, para que você diga, a partir de agora eu estou feliz, NÃO, o sofrimento é humano, ele está aqui, ele é real, ele é concreto. 

E aqui nessa passagem Jesus está aqui, do mesmo jeito que nós tantas vezes nos sentimos curvados diante da dor. A ponto de pedir ao Pai, Senhor, se puder, afasta de mim esse cálice, mas que não seja feita a minha vontade, que seja feita a tua, porque eu sei que esse momento que eu estou passando, ele é uma transição, mas eu preciso da tua força para eu ultrapassar essa pequena distância. 

Eu preciso das tuas armas para que eu possa vencer essa pequena batalha, ou grande, não importa. E o que nós queremos , é pedir a Deus a coragem de segurar a taça até o final. 

De não cair na tentação de jogar a taça fora, de não cair na tentação de pensar que esse vinho não é pra nós, que esse cálice não é nosso. De não cair na tentação de jogar essa taça pro outro lado e dizer você que se vire com isso, NÃO. 

O primeiro grande milagre que podemos pedir não é que Deus venha mudar o nosso sofrimento não, porque ele não retirou nem mesmo seu filho do destino de sofrer pelas causas que eram suas. Isso é maturidade, nós identificamos a maturidade humana na medida que as pessoas estão capacitadas para lidar com os sofrimentos e os limites de cada dia. 

Os imaturos costumam jogar tudo pra cima, os imaturos não costumam se comprometer com as conseqüências dos atos que cometeu, os imaturos não costumam voltar para ver do que ficou daquilo que ele fez. 

Diferente de uma pessoa madura que está sempre consciente que todo ato desencadeia conseqüências e que por tanto a minha postura de homem maduro é de estar comprometido com as conseqüências que eu desencadeio na vida, com as escolhas que eu fiz, com aquilo que naturalmente me tocou, que não foi escolha minha e de repente me aconteceu. 

Ai nós caímos naquela sabedoria, a vida está aqui, eu não posso mudar o sofrimento, mas quem sabe eu possa pedir o maior de todos os milagres, que eu descubra um jeito de conviver com ele e de lidar com ele, porque eu ainda estou convencido do que o pior de todos os sofrimentos humanos que nós podemos passar na vida é justamente o sofrimento de não saber sofrer. 

Sofremos dobrados cada vez que nós não sabemos sofrer. Mas e ai? O sofrimento está em mim, o sofrimento está em você e eu quis trazer essa passagem do evangelho pra mostrar que Jesus também está na perspectiva do sofrimento, ele não está fingindo que sofre, ele verdadeiramente sofre na carne e ele muitas vezes como eu, como você, ele também pede que este cálice seja afastado, pra que a gente possa se sentir dentro da história. Eu também caio na tentação de pensar, Senhor afasta de mim esse cálice, eu não quero sofrer a dor dessa hora, se for possível, retira isso de mim. Quantas vezes você mesmo pensou isso no seu coração. SOFRER, eu sofro, você sofre e nós não temos como mudar isso. 

Portanto, quando o sofrimento bater a sua porta, é melhor abrir, porque se você não abre a porta no momento em que o sofrimento bate, você corre o risco de fazê-lo ficar ali, aquela coisa insistente, desagradável. O sofrimento bate a nossa porta cada vez que nós passamos a experiência do limite. 

O sofrimento na vida humana, ele é natural, você não vai encontrar ninguém nessa vida que não tenha passado pela experiência de sofrer. Nós sofremos porque há em nós um conceito concreto que se chama limite. Quantas vezes você grita para o seu marido ou seus filhos, eu não agüento mais, eu já estou no meu limite. 

Você sofreu, você sofre porque você esbarra no seu limite. Nós sofremos porque somos limitados, nós sofremos porque temos fronteiras. E agora eu pergunto a vocês, existe algum problema em a gente ter limites? Existe algum problema em a gente ter fronteiras? Não tem problema nenhum, mas porque a gente sofre tanto com os limites que a gente tem? 

Porque nós não somos capazes de viver a experiência do limite de uma forma que ele não venha nos sufocar. Porque nós sofremos tanto com os limites da vida? Porque nós sofremos tanto no momento em que a gente não pode agir, no momento que a gente não pode fazer, é porque geralmente a gente encara aquele limite como definitivo, chegou o final. 

E não é verdade. Eu pergunto a vocês. Lá na ponta do Amapá, o Brasil começa ou termina? E eu lhes respondo, depende de quem enxerga, é a maneira de como nós olhamos aquela fronteira e isso é determinante na maneira de sofrer. 

Quantas vezes você olhou para o seu sofrimento como término, agora acabou, tudo depende da forma de como nós olhamos. 

Você sabe porque você nasceu? Porque você e sua mãe chegaram no limite, a gente nasce porque a convivência dentro da barriga da mãe está insuportável, o organismo não te agüenta mais, chegou no limite, por isso que dizem quando passa dos 9 meses é filho de burro. O burro é aquele que não sabe que está na hora de nascer. Burro é gerado durante 12 meses, não é isso? 

Mas chegado os 9 meses de gestação o próprio organismo da tua mãe, te expulsa. Gente olha que sabedoria bonita, chega o limite, ela te da todo o instrumental, ela te prepara, ela te resguarda, ela te forma, ela te da DNA, ela te da sangue, ela te da comida, tem umas mães ai que dá até uma dosesinha de álcool para a criança, ou uma maconhazinha, é uma tristeza mas é verdade, a criança ta lá no útero viajando, fumando uma maconha lascada. Você sabe muito bem que você como mãe determina o que você ta dando pra ele. 

Se você está dando bem estar, se você está dando tranqüilidade, por isso que a gravidez tem que ser um tempo de preparo, um tempo de responsabilidade, porque aqueles 9 meses é o tempo da sua primeira experiência de maternidade, você gera uma criança dentro de você e ai que se estabelece o primeiro limite de todos os limites que você enfrenta na vida. 

O nascimento minha gente, ele é todo envolto em sofrimento, você já vem a esse mundo chorando, é a primeira coisa que você faz na vida é chorar, olha que entrada gloriosa que você tem pra dizer que chegou no mundo, você chegou chorando, por que alguém expulsou você de onde você estava, mas expulsou porque te ama, o organismo que te gerou te ama tanto que te expulsa na hora certa, vai viver a vida agora, chega, você não é mais a minha continuidade, você é um outro ser, e ai começa as dores de contração, que nem quero me lembrar como é. 

Ainda bem que vocês homens não vão parir ninguém, porque homem é um bicho mole, a tolerância deles com a dor é mínima, eles não dão conta de sofrer. 

Gente o movimento de contrações é uma coisa absurda, é toda esta musculatura trabalhando pra expulsar um ser humano de dentro. Quem já sofreu dores de parto aqui, meus PARABÉNS. 

Você nasce em movimento de contrações, contrações significa, toda uma musculatura te expulsando, você já nasceu expulso e foi sua mãe que te expulsou minha gente. Olha a situação que você chega no mundo. 

Tanto é que a psicologia vai nos ensinar, que durante as primeiras fazes da vida, você sabia que a criança não faz distinção da mãe e dela, não faz, distinção é coisa que vai acontecendo depois com o tempo. 

Ela não sabe que ela é outra pessoa, ela acha que ela é a mãe e que a mãe é ela. Isso é muito interessante, não há o conceito de distinção, você é outra pessoa, NÃO, nós achamos que nós somos a mesma pessoa. Claro está gerada o tempo todo, está junta, cordão umbilical ligando, o que ela sofre eu sofro, o que ela come eu como. 

Interessante, o que ela ama, eu já amo também, a criança tem uma natural afeição pelas pessoas que a mãe ama e uma natural rejeição também pelas pessoas que a mãe rejeita, é intima, você está no processo de absoluta ligação e de repente aquilo é cortado. 

Você é segurado de cabeça pra baixo como você fosse um frango, o problema que tem gente que fica frango o resto da vida, não é? Você é levantado pelos pés, e chega ao mundo de cabeça pra baixo, careca, sem dentes e pelado. E isso é bonito? Não é não, é a primeira experiência de fronteira e limite. 

Assim como eu não sei onde termina a Bolívia e onde começa o Brasil, também quando nascemos é assim, nós não temos estabelecido as fronteiras, nós não sabemos quem somos. Você foi expulso de um ambiente acolhedor e agora você tem que dar conta da vida, você começa o processo humano de se tornar quem você é, porque você precisava ser expulso, não há como crescer se você prefere ficar dentro do ventre, se você não for expulso, você morre, você mata a sua mãe. Veja bem como a experiência do limite é interessante gente, e o quanto nós precisamos nos aproximar dessa experiência para aprender o que agora se passa com a gente. 

Porque o nascimento você acha que foi uma vez só? NÃO, quantas vezes na sua vida você também sofre as contrações da vida, você sofre as dores de ter que nascer de novo. 

É só a mãe que sofre no momento de dar a luz? NÃO, a criança sofre, olha o lugar apertado que ela passa gente, eu até hoje tenho medo de passar em lugar apertado, tenho medo de ficar presa em elevador e os psicólogos dizem que isso são sonhos decorrentes. 

Você deve ter tido alguma dificuldade ao nascer, a sua experiência de nascimento deve ter sido tão dolorosa que ainda hoje você passa pelo medo psicológico de estar num lugar estreito, você é fruto do seu nascimento. 

Veja bem o quanto é interessante, o sofrimento que nós passamos no momento do nascimento, é tão vivo dentro de nós que ele pode nos acompanhar ao longo da vida. A experiência de nascimento é dolorosa porque ela é experiência de limite, você nasce no movimento de contrações, você nasce no movimento de estar apertado, o organismo se encarrega de jogar você pra fora. 

Minha gente, eu acho tudo isso tão interessante, porque o nascimento é uma metáfora de tudo aquilo que a gente enfrenta em nossa vida. Estou errada? Quantas vezes você estava lá toda espremida e você precisava sair, mas quantas vezes também você vê as pessoas passando a seu lado e as vezes você experimenta na sua carne a dificuldade de proporcionar o nascimento que a vida lhe pede. 

Nascer é apenas o início de uma grande obra de nascimento que Deus vai realizar na nossa vida. É por isso que o ser humano nunca está pronto, por que ele nasce da experiência do limite. O limite não vai nos deixar, ninguém deixa de ser limitado, não há reza que cure limite. 

Limitados vamos ser sempre, mas quando eu descubro o meu limite, eu tenho que descobrir então o treinamento para o meu limite 

O sofrimento do corpo você experimenta o tempo todo, você que é mulher você experimenta dobrado, dói todo mês, você sangra todo mês. O corpo anuncia que ele tem limites, se você exagera em uma atividade física, ele dói, ele te lembra que ele existe. 

O corpo da notícias o tempo todo do limite que ele tem, você só descobre que está doente porque o corpo dói. A dor, ela tem um significado maravilhoso na vida humana, ela anuncia que alguma coisa não está bem, se alguma coisa no corpo está doendo, é porque ele está pedindo socorro, ele está pedindo, cuide de mim porque eu estou precisando de ajuda. 

Se o sofrimento físico está estabelecido, é porque alguma coisa precisa ser feita, não dói por acaso. Isso é conversão também, você ficar atento a dor que você sente. Deus sinaliza para nós o que a gente precisa fazer com as dores que a gente sente, estou falando de dor física, depois nós vamos chegar na outra. 

Quantas vezes nós negligenciamos as dores do nosso corpo, quantas vezes nós não damos a ele o repouso necessário para respeitarmos o limite que ele tem. Quantas pessoas adoecem antes da hora e morrem antes da hora porque não respeitamos o limite do corpo. 

O sofrimento físico é um grito de alerta para que nós possamos prestar atenção naquilo que não vai bem. O corpo quer ter saúde e ele no momento em que ele pede, você precisa estar atento as necessidades dele. 

E agora, o que a gente faz quando existe alguma coisa que dói dentro de nós e os exames não acusam? Quando você tem a sensação de que a vida está perdendo a graça, quando você passa pela experiência de viver a contração da vida e não sabe por onde vai e você tem diante de você a nítida sensação de que você está perdendo o seu solo, ta faltando chão. É experiência de limite, é. 

Os limites da alma. Quando os nossos sofrimentos, os que não são físicos, faz você passar pela experiência de nascer de novo. Quantas pessoas você encontra sofrendo porque a vida não foi do jeito que ela achou que seria. 

Quantas pessoas marcadas pela depressão, pelo sofrimento por causa disto, a minha vida não é do jeito que eu queria, a minha vida não é do jeito que eu sonhei. O sofrimento me aconteceu e eu não sei o que fazer com isso agora. É o meu limite. 

Pense um pouco agora. Quais são os sofrimentos que você identifica na sua vida nos últimos tempos, quais são as grandes questões que são incapazes de infelicitar o seu coração. E você vai chegar a uma conclusão, tem um limite, alguma coisa que você não pode mudar. 

Ou é seu marido que não tem jeito, você já chegou a conclusão de que ele é um caso perdido, ou é seu filho que está nas drogas, ou é a sua filha que está perdida no mundo, ou é sua vida profissional que está uma droga, algum limite está estabelecido e você sofre por causa disso e você chora por causa disso. 

Alguma coisa dentro de você não vai bem, é um limite. Agora eu pergunto pra você. Esse limite é o fim de tudo ou ele é o início? Se uma criança encara o nascimento como um fim, ela já morre então. Se aquele momento de desespero, de ser expulso dentro da mãe for encarado como fim, não haverá possibilidade de vida para aquela criança. 

Mas se ela encara naquela contração uma nova oportunidade de conhecer o mundo diferente, se ela encara naquele nascimento a oportunidade de deslumbrar um novo tempo, uma nova experiência, então ela de fato supera o limite do nascimento e entra pra vida. 

Sofrimento é sempre porta minha gente, aonde será que esse sofrimento vai me levar, o que será que ele vai fazer comigo? Só que eu também tenho a possibilidade de ficar olhando na porta, mas se eu não abrir essa porta eu nunca vou chegar ao conhecimento que esse sofrimento pode me trazer. 

Vou ficar contemplando, olhando, mas não vai acontecer nada, somente vou viver aquilo que nós chamamos de sofrimento infértil. Sofro, sofro, sofro, mas não vou a lugar nenhum. Patino e patino e nada de novo acontece na minha vida. Sofro as dores das contrações, sou jogado para um lado, sou jogado para o outro, mas não naço nunca. 

Não aceito o desafio de passar pelo caminho estreito, não aceito o desafio de passar pelo caminho mais difícil, prefiro ser jogado de um lado para o outro mas não encaro a dura responsabilidade de nascer. 

Posso dizer a vocês e testemunhar aquilo que eu encontro como voluntária de uma casa espírita. Eu não tenho medo de dizer que boa parte dos sofrimentos que eu encontro nas pessoas são desnecessários, já poderiam ter acabado há muito tempo minha gente, mas não termina porque a pessoa não ultrapassa, não atravessa a porta. 

Fica olhando pra ela, chorando e chorando e não faz nada. Quantas vezes eu encontro pessoas que me dizem, Jaque eu não agüento mais a minha vida. E ai você pergunta, e o que você ta fazendo pra mudar? Sabe o que elas respondem? Jaque eu não agüento mais a minha vida. Olha para a porta e não atravessa, parou no limite, eu tenho ombros caídos, não vou ter jeito nunca mais. Diferente do atleta que diz, eu tenho ombros caídos, vou trabalhar a minha musculatura para melhorá-la, o limite faz parte da minha vida mas ele não manda em mim. 

É aquela pergunta idiota que já deu até título de livros, porque pessoas boas sofrem? É de rir. Porque as ruins também sofrem, todo mundo sofre, que idiotice é essa pensar que só as pessoas boas sofrem. 

O que acontece é que pessoas boas são mais honestas no momento que sofrem, elas contam um pouco mais, elas são mais transparentes, diferentes das pessoas ruins que fazem de tudo para que ninguém veja o que ela está passando, para que ela tenha o direito de continuar ruim. 

O sofrimento está em todo o lugar minha gente, se hoje nós abríssemos esse microfone para que você tivesse a oportunidade de contar a sua história, aquela que você acha absurda, aquela que você acha que é o pior de todos os sofrimentos, você vai ter aqui no mínimo 20,30 ou 40 pessoas sofrendo a mesma coisa que você. 

Se você acha que você é o único no mundo a sofrer as contrações da vida, você está enganado. A vida vive para nos parir o tempo todo e quem não fizer, quem não aceitar o movimento da contração vai morrer no ventre, vai ser abortado. Porque essa vida não é possível fora da experiência do sofrimento, não queiram uma vida sem sofrimento, queiram uma vida com luta. 

É isso que distingue as pessoas honestas no mundo de hoje, aquelas que são capazes de olhar para os limites que possuem, eu tenho esse limite, mas o limite é meu, não sou eu que sou dele. Eu tenho problemas na vida, mas os problemas não me administram, sou eu que administro os problemas. 

A vida me faz movimentos e contrações e eu obedeço, eu entro na dinâmica dela, porque eu não quero viver no útero, eu não quero ser um aborto humano e muitas pessoas são abortadas no processo da vida, justamente por que não são capazes de entender o limite que está na hora de sair. 

Gente nós nunca estaremos prontos, o conceito de limite nos diz isso, nunca estaremos prontos, você experimenta isso na sua carne, aquilo que você desejava tanto já aconteceu, acabou, se não desejar coisas maiores e melhores você vai morrer porque a vida é movida pelo desejo e o desejo sobrevive da ausência, não é da presença. 

O que me motiva é aquilo que eu ainda não tenho, é aquilo que eu ainda não alcancei e o mais bonito é chegar no processo de alcançar, não é alcançar. 

O sofrimento é a mesma coisa, ele não pode ser entendido como destino final, ele tem que me ensinar que ele é processo. 

E eu finalizo com essa frase que eu acho muito sábia. Não diga a Deus que você tem um grande problema, mas diga ao problema que você tem um grande Deus.

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